quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Fla 30 anos do Mundial: do início à Libertadores






Fla 30 anos do Mundial: do início à Libertadores



Primeiro capítulo do Especial do LNET! conta o começo da saga rubro-negra até a conquista da Copa Libertadores, em 1981

    Claudio Portella
Publicada em 11/12/2011 às 07:00
Rio de Janeiro (RJ)
Uma geração de ouro que encantou o mundo. Assim podemos traduzir o time do Flamengo, campeão de todos os títulos possíveis desde o fim da década de 70 até meados dos anos 80. Mas para chegar até à conquista do Mundial Interclubes de 1981 a trajetória não foi tão fácil assim. A conquista da Copa Libertadores foi sofrida e, antes disso, a base do grupo vencedor esteve ameaçada.
Como tudo começou
Em 1978, o Flamengo foi para a decisão do Campeonato Carioca, diante do Vasco, com total responsabilidade do triunfo. Pesavam os últimos insucessos do clube na competição, quando não passou de mero coadjuvante em 75 e 76. Além disso, no ano anterior, em 1977, perdera o título para o Cruz-maltino, nos pênaltis.
O gol de Rondinelli, aos 41 minutos do segundo tempo na decisão de 1978 não só garantiu o título do segundo turno e do Carioca de forma antecipada, sem necessidade de final, como manteve na Gávea uma geração que poderia ter se perdido não fosse aquela cabeçada fulminante.

Análise tática de Mauro Beting

Em 1978, Toninho Baiano voava pela direita. Mas sem a qualidade técnica de Leandro. Com a presença de Claudio Adão no comando de ataque (que não pôde atuar na decisão contra o Vasco), o setor era muito mais técnico. Mas não funcionou tão bem como nos tempos de Nunes. Em 1978, na final, o treinador Cláudio Coutinho usou algo próximo a um 4-2-2-2. Mas a base do time era semelhante ao 4-3-3 em voga. Dois pontas, um centroavante, Zico próximo ao trio ofensivo, Adílio fazendo o vaivém, Carpegiani comandando a marcação e organizando o setor.
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Na temporada seguinte, duas competições foram realizadas pela federação de futebol do Rio de Janeiro. Em ambas, o Rubro-Negro sobrou e levou a melhor, conseguindo a façanha de ser tricampeão carioca em dois anos. Com a Cidade Maravilhosa pintada de vermelho e preto, Zico e companhia continuaram sua saga e conquistaram o Brasil, em 1980, pela primeira vez na História.
- Depois daquilo, sabíamos que tínhamos condições de títulos ainda maiores. Fomos em busca disso - disse Zico .
Foi o ponto inicial para a brilhante saga rubro-negra rumo a América do Sul.
A caminhada pela Libertadores
A estreia na Copa Libertadores de 1981 foi em julho. Na fase de grupos, o Fla teve que enfrentar mais uma vez pelo Atlético-MG, com quem já havia decidido o Brasileiro, no ano anterior. Além do Galo, dois rivais paraguaios, o Cerro Porteño e o Olímpia. As duas equipes brasileiras terminaram com oito pontos, mas somente uma poderia obter a classificação. Em jogo desempate polêmico em Goiânia, o Atlético-MG teve cinco jogadores expulsos, e o Rubro-Negro foi declarado vencedor por 1 a 0.
A segunda fase da competição reuniu os primeiros lugares dos cinco grupos, além do Nacional (URU), campeão da edição anterior. A chave do Flamengo tinha o Deportivo Cali, da Colômbia (que havia eliminado os argentinos River Plate e Rosario Central) e o Jorge Wilstermann, da Bolívia. Em quatro jogos, quatro vitórias tranquilas, e o direito de jogar a final em sua primeira Libertadores.
Decisão inesquecível
O adversário da grande decisão foi o Cobreloa, do Chile. Os dois times possuíam as melhores campanhas da competição e estavam invictos. Os chilenos haviam eliminado os gigantes uruguaios Nacional e Peñarol. A primeira partida das finais aconteceu em um Maracanã lotado. Zico marcou dois gols para o Fla na primeira etapa e Merello diminui no segundo tempo.
  • Batalha no Chile

Em Santiago, no estádio Nacional, foi disputada a segunda partida da final. Ao Fla, um simples empate bastava para o título. Oito anos antes, o local do jogo serviu de campo de concentração no golpe de Estado no Chile. E podemos dizer que o que aconteceu naquele dia de novembro de 1981 foi uma verdadeira guerra, sobretudo por conta da equipe rival.
O zagueiro Mário Soto foi o protagonista da violência desvairada realizada pelos jogadores chilenos, ao distribuir pontapés e cotoveladas durante toda a jornada. Adílio e Lico foram os que mais sofreram com a covardia adversária. O ponta-esquerda teve o supercílio aberto, que lhe deixaria fora do terceiro e último duelo, já que Marellos marcaria a seis minutos do fim para o Cobreloa, impedindo o título rubro-negro, pelo menos naquele dia.
- A derrota foi até boa. Se tivéssemos sido campeões iria acontecer uma tragédia. Fomos intimidados do início ao fim em Santiago. Não iriam deixar a gente sair vivo dali. Ficamos preocupados. Eles batiam muito - revelou o ex-lateral-direito rubro-negro Leandro, em entrevista ao LNET!.
Vitória na bola
Com uma vitória para cada lado, Flamengo e Cobreloa disputaram no dia 23 de novembro a terceira partida decisão. Sem Lico, Carpegiani ousou taticamente: optou pelo lateral-direito Nei Dias, deslocando Leandro para o meio de campo e Adílio para a ponta-esquerda. Em campo neutro, no Estádio Centenário, no Uruguai, sem a forte pressão de sua torcida, a equipe chilena sucumbiu ao talento dos brasileiros. Com o craque Zico inspirado, o Rubro-Negro saiu na frente logo no início do jogo.
Sem abrir mão de sua virilidade, o Cobreloa esboçou uma reação na segunda etapa, mas sem êxito. Seu estilo violento irritava a comissão técnica do Fla. Na reta final do duelo, em cobrança de falta perfeita, o Galinho enterrou qualquer chance do rival, e mostrou que futebol se joga com a bola, e não desferindo pontapés.
Fla e Cobreloa fizeram uma verdadeira batalha (Foto: Almir Veiga/AJB)

Vitória na briga
Com o resultado na mão, Paulo César Carpegiani tomou uma decisão polêmica no banco. Após assistir os chilenos agindo covardemente ao bater em seus jogadores, ele colocou o reserva Anselmo com a missão de revidar o mais violento deles, o zagueiro Mário Soto.
- Ele bateu muito em todos os jogos das finais. Tirou o Lico do terceiro confronto. Soto usava uma pedra na mão para agredir meus jogadores. No finzinho, faltavam cinco minutos e ele pegou o Tita. Chamei o Anselmo e disse para arrepiar o Soto. O problema é que ele não disfarçou e esperou o melhor momento. Pelo contrário, o Anselmo foi lá e deu um soco no meio da cara - contou Carpegiani ao LNET!.
Na bola e no braço, Flamengo campeão da América.
A campanha na Libertadores
DataJogoFaseLocalGols do Flamengo
03/07/81    2 x 2 Atlético-MGMineirãoNunes e Marinho
14/07/81 5 x 2 C. Porteño (PAR)    Maracanã         Zico (2), Nunes (2), Baroninho
24/07/81 1 x 1 Olimpia (PAR)MaracanãAdílio
07/08/81 2 x 2 Atlético-MGMaracanãNunes, Tita
11/08/81 4 x 2 C. Porteño (PAR)AssunçãoZico (3), Baroninho
14/08;81 0 x 0 Olimpia (PAR)Assunção 
21/08/81 0 x 0 Atlético-MG*Serra Dourada      
02/10/81 1 x 0 Dep. Cali (COL)SFCaliNunes
13/10/81 2 x 1 J. Wilstermann (BOL)       SFCochabambaBaroninho, Adílio
23/10/81 3 x 0 Dep. Cali (COL)SFMaracanãZico (2) Chiquinho
28/10/81 4 x 1 J. Wilstermann (BOL)            SF    MaracanãNunes, Adílio, Anselmo, Chiquinho
13/11/81 2 x 1 Cobreloa (CHI)FMaracanãZico (2)
20/11/81 0 x 1 Cobreloa (CHI) FSantiago 
23/11/81 2 x 0 Cobreloa (CHI)FMontevidéuZico (2)
O Atlético teve cinco jogadores expulsos, e o Flamengo foi declarado vencedor por 1 a 0.
Ficha técnica da decisão
Flamengo 2x0 Cobreloa
Local: Estádio Centenário (Montevidéu)
Data: 23 de novembro de 1981 (segunda-feira).
Árbitro: Roque Cerullo (Uruguai).
Público: 30.200 pagantes.
Gols: Zico 18' 1º/T (1-0), 39' 2º/T (2-0)
Flamengo: Raul; Nei Dias, Marinho, Mozer e Júnior; Leandro, Andrade e Zico, Tita, Nunes (Anselmo) e Adílio. Técnico: Paulo César Carpegiani.
Cobreloa: Wirth; Tabilo, Páez (Múñoz), Soto e Escobar; Jiménez, Merello e Alarcón; Puebla, Siviero, W. Olivera. Técnico: Vicente Cantatore.

FONTE LANCENET!

Com a palavra, Roberto Assaf (Colunista do LANCE!)
 
O caminho até Tóquio foi árduo para o Flamengo. Para chegar ao Japão o time viu-se obrigado a travar autêntica batalha com o Cobreloa. Fundado em 1977 por mineiros de Chuquicamata, região no extremo norte do Chile, próxima ao deserto de Calama, o clube de uniforme laranja habilitou-se a disputar a Taça Libertadores de 1981 ao conquistar o campeonato de seu país no ano anterior.
Na noite de sexta-feira, 13 de novembro, o Flamengo venceu o adversário por 2 a 1, com público de 93.985 torcedores no Maracanã, dando o primeiro passo para levantar o título. Dada a diferença de qualidade entre os dois times, logo fez-se a previsão de que não seria absurdo obter um empate em Santiago, resultado que daria o título ao rubro-negro. Mas o Flamengo ainda teria que superar terrível provação.
Graças ao apoio sensato da Confederação Sul-Americana (CSF), os dirigentes rubro-negros conseguiram tirar o segundo jogo do Estádio Municipal de Calama, localizado a 2.800 metros de altitude, em plena Cordilheira dos Andes, e levá-lo para Santiago. O Chile vivia sob a austera ditadura do general Augusto Pinochet, que abraçou a causa, tornando a conquista do título questão de orgulho para a pátria. Na noite de sexta-feira, 20 de novembro, um público de mais de 60 mil pessoas superlotou o Estádio Nacional da capital. A truculência da polícia e a violência dos próprios jogadores do Cobreloa transformaram dependências e gramado num circo de horrores.
Na prática, já se sabia do, digamos, estilo desse time, pois o árbitro uruguaio Roque Cerullo, em conversa com Zico no intervalo do jogo contra o Cerro Porteño, no Maracanã, disse que apitara em Calama, e que ficara vivamente impressionado com a pancadaria dos chilenos. O Flamengo suportou o 0 a 0 até os 35 minutos do segundo tempo, quando Leandro marcou contra, ao desviar um escanteio batido por Merello. O zagueiro Mario Soto, com uma pedra na mão, distribuiu bordoadas à vontade, e rojões foram lançados desde a arquibancada, contra os torcedores e os craques rubro-negros. Com uma vitória para cada lado, houve a necessidade de uma partida extra, marcada pela CSF para a noite de segunda-feira, 23 de novembro, para o campo neutro do Estádio Centenário, em Montevidéu.
Livre das boçalidades, e disposto a dar uma resposta aos chilenos, o Flamengo foi logo impondo o seu toque de bola. Abriu o placar quando Zico aproveitou uma sobra de bola na área, e ampliou cobrando falta que deixou o goleiro Wirth estático. Com tal vantagem, o Rubro-Negro pôs o Cobreloa na roda, aguardando o apito final. Mas o fato é que restava o troco derradeiro. Logo, Carpeggiani fez o atacante Anselmo entrar em campo para 'surpreender' o truculento Mario Soto. Num momento de distração do zagueiro, Anselmo desferiu-lhe tremendo murro no rosto, completando a vingança, lavando a alma rubro-negra.
Vale aqui esclarecer: ao contrário do que se diz, os clubes argentinos e uruguaios, tradicionais papões da Libertadores, disputaram, é evidente, a edição de 1981: o River Plate e o Rosario Central no Grupo 1 e o Peñarol e o Bella Vista no 5, além do Nacional, então atual campeão, que entrou nas semifinais. É bom lembrar também que com o resultado de 2 a 0 o Flamengo tornou-se o terceiro clube brasileiro a conquistar a taça: antes, só o Santos, em 1962 e 1963, e o Cruzeiro, em 1976.


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